Núcleo Vida e Saúde

Já notou que algumas condições associadas a cardiologia, tais como pressão alta ou colesterol alto são tratados com apenas um tipo de medicação? No entanto, basta que ocorra um infarto do coração ou haja sinais de insuficiência cardíaca em um ecocardiograma e a lista de medicamentos aumenta substancialmente. Muitos pacientes, mesmo não tendo algumas condições acabam tomando medicações para pressão alta, ou colesterol, ou ainda diversas medicações que eles nem sabem muito bem porque elas foram prescritas.

Por que isso ocorre? Não, não é porque seu médico gosta que você tome remédio ou não qualquer coisa assim. A questão é fisiológica, ou melhor, patofisiológica, como a doença se comporta e os efeitos a curto longo prazo e também tem a haver com os estudos clínicos com desfechos cmbinados e primários, onde além de saber se o remédio serve para tratar uma condição se analisa o efeito dele nas outras condições e em desfechos tais como mortes ou internações por exemplo.

Nesta área da cardiologia, são comuns estes tipos de estudos e o conhecimento sobre o funcionamento da doença a longo prazo nos permite saber que após um infarto, além do problema gerado com aquele evento, com a morte de uma parte do músculo cardíaco, haverão outros problemas que surgirão ao longo do tempo como uma chance ainda maior de um novo infarto, a deformação do coração, eventual aumento da espessura do musculo cardíaco e perda da perfeita função entre outros eventos.

Então algumas condições cardíacas requerem um certo "pacote" de medicamentos, que agirão em conjunto, cada um em sua área, mas todos contribuíndo para controlar todas as complicações daquela condição inicial ou agindo para evitar uma certa complicação. 

Estas medidas muitas vezes incluem medidas chamadas de não medicamentosas, mas que são fundamentais para o chamado "sucesso do tratamento". Na cardiologia as medidas não medicamentosas mais importantes geralmente passam por realização de atividade física, dieta ou mudança de hábitos de vida, como a parada do tabagismo, diminuição da ingesta alcoólica entre outras.

A Aterosclerose, doença que causa o infarto do coração e pode levar a insuficiência cardiaca é bastante complexa, com diversos mecanismos e sistemas envolvidos na sua gênese e progressão. Uma terapia chamada de otimizada, mirando todos estes mecanismos e sistemas biológicos é essencial para o maior sucesso no tratamento.

O melhor jeito da gente entender isso é passarmos para uma outra área do nosso dia-a-dia. Imaginem que para o bom funcionamento de uma casa ou de um carro, diversas partes precisam estar funcionando bem, caso contrário, um pequeno defeito em uma parte pode gerar diversos outros problemas em outras partes. No carro por exemplo, um pneu mal-balançeado parece um problema muito pequeno, mas ele pode causar um desgaste irregular no pneu, forçar os armortecedores, desalinhar a direção, aumentar o consumo de combustível e até causar um acidente, quando tudo isso estiver já instalado e houver uma chuva por exemplo.

Entende a analogia? Sendo assim é comum que paciente que já tem a aterosclerose instalada e manifesta, com uma angina ou um infarto, ou eventualmente uma placa de gordura já identificada no seu coração precisem fazer uso de medicações com açoes em diversos sistemas no objetivo de manter todo o processo em equilíbrio.

Normalmente, nestes pacientes, é feito o uso de um medicamento anti-plaquetário (AAS, aspirina ou clopidogrel, por exemplo), um medicamento da classe dos inibidores da ECA (remédios tradicionalmente para o controle da pressão arterial, mas que nestes casos evitam a deformidade cardíaca), um medicamento beta-bloqueador (também classicamente usados na pressão arterial, mas que servem para modular o batimento do coração otimizando a força muscular) e medidas de mudança do estilo de vida, como a saída do sedentarismo, parada do tabagismo entre outros. A depender do caso outros medicamentos podem ser usados, sempre neste raciocínio de cercar o problema por todos os lados.

Espero ter ajudado na compreensão do raciocínio do seu médico.

 

OBS: Este artigo tem carater puramente informativo, não substituíndo a consulta presencial a um profissional habilitado e não pretendendo ser fonte única de conhecimento médico.

Artigo elaborado, após revisão da literatura médica, citada na fonte por Sergio Tranchesi Ortiz, CRM/SP: 109.121 - Clínico Geral (RQE 85913) e Cardiologista (RQE 85912).