Núcleo Vida e Saúde

As dores são o principal sintoma que faz uma pessoa procurar ajuda de um médico. Mas nem todas as dores são iguais, certo? Porque certas partes do nosso corpo doem mais do que outras? Porque doem de maneira diferente? A característica da dor pode ajudar a descobrir sua causa?

Existem diversos tipo de terminações nervosas em nosso corpo, cada uma tem uma função específica. Algumas sentem a temperatura, outras servem pra verificar se há pressão no local, e outras são específicas para dor. Estas ainda tendem a ser específicas para certos estímulos, os quais são os mais perigosos para aquelas estruturas, por exemplo, o músculo cardíaco é muito sensível a falta de oxigênio e nutrientes que ocorre durante um infarto, mas é pouco sensível aos outros estímulos, tais como um tiro por exemplo. A pele é mais sensível a temperatura que o músculo cardíaco por exemplo. Tudo faz sentido né?

A qualidade da informação que o cérebro recebe da dor também depende de onde é a dor. A pele tem muitos mais terminações nervosas para dor que os órgãos internos por exemplo. É por este motivo, que conseguimos localizar exatamente em que parte do dedo fizemos um corte e não conseguimos precisar o local exato de uma dor de barriga, geralmente doendo por todo o abdome. A dor também pode ter outras características que nos ajudam a localizar e detectar a causa da dor. Estas características as vezes são essenciais para o diagnóstico, como é o caso de dores de cabeça, onde cada tipo de dor de cabeça apresenta características únicas.

Na medicina, dizemos que a dor tem 10 características que o médico precisa tentar elucidar no processo de diagnóstico. Vamos a alguns exemplos destas características para que da próxima vez que vc tiver uma dor você preste atenção nestas características, principalmente se a dor em questão for recorrente, ou seja que se repete de tempos em tempos.

1. localização: esta é a característica mais facil da gente identificar e até as crianças bem pequenas conseguem apontar aonde é a dor. Se a dor é bem localizada, por exemplo a gente consegue apontar com apenas um dedo, ela provavlemente é mais superficial, tamvez de origem na pele ou no subcutâneo/musculos. Se tempos dificuldade em apontar apenas um dedo, e a dor parece abranger uma área maior, como de uma mão aberta ou até mais, ela provavelmente é uma dor das vísceras, ou mais profunda, onde há menos receptores de dor e a informação que chega em nosso cérebro é mais "genérica".

2. Irradiação: Alguns tipos de dor se irradiam para outras partes do corpo, ou seja, dão a impressão de estarem "andando" para outro lugar. Exemplo clássico são as dores nos órgãos genitais, como nos testículos dos homens, que invariavelmente "sobem" para a barriga. Dores em nervos também costumam irradiar por todo o trajeto dele, como por exemplo as dores de ciático, que andam até da parte posterior da coxa até a ponta dos pés.

3. Caráter ou qualidade: esta característica pode ser muito fácil de identificar ou até impossível a depender das experiências prévias da pessoa e da capacidade dela de se expressar quanto a esta dor. Isto por que elas normamente são comparadas com outros tipos de dores, por exemplo: o sintoma clássico de um infarto do coração é uma dor no peito que se assemelha a um peso ou aperto, como se houvesse alguém apertando a pessoa ou "um elefante sentado no peito". O infarto pode doer de muitas outras maneiras, ou até ser indolor, mas esse tipo de dor, quando relatado pelo paciente precisa incomodar o médico em investigar um provável problema cardíaco. Dores de cabeça, do tipo enxaqueca, são classicamente descritas como pulsáteis ou como se um machado tivesse acertado a cabeça. Outros tipos de dores comuns são dores em queimação, pontada, agulhada, surda, etc.

4. Intensidade: Essa é auto-explicativa, é o quão forte é a dor. Fraca, média, forte, muito forte... Normalmente nós médicos gostamos de dar notas de 1 a 10 para dor, mas cada médico tem o seu modo de caracterizar a intensidade da dor. O histórico do paciente também é importante. Pra quem nunca experimentou uma dor de extrema intensidade, uma dor de um braço quebrado pode ser nota 10, mas pra quem já teve uma dor por cancer, ou um cálculo renal, ou parto, a mesma fratura de braço poderia receber nota 6-7.

5. Duração: Esta caracteristica é muito importante, podendo ajudar em muito alguns diagnósticos. Se a dor dura apenas alguns segundos ou alguns minutos, ou se ela é quase constante, doendo 1 ou dois dias faz toda a diferença na provável causa da dor.

6. Evolução: Se a dor vem piorando ou melhorando ao longo do tempo, ou se alguma outra característica dela mudou. Exemplo bem clássico é a Angina de coração. Normamente ela começa de fraca intensidade e aos grandes esforços. Não é raro o paciente nos dizer "antes eu andava 10 quarteirões e ai eu sentia a dor, agora, depois de 6 meses, eu não consigo andar 2 quarterões sem ter a dor. E ela também está mais forte. Antes eu conseguia continuar andando mesmo com a dor, agora eu sou obrigado a parar de tão forte que ela fica." Observar este tipo de comportamento da dor pode ser a dica que faltava para se chegar a um diagnóstico.

7. Relação com as funções orgânicas: Doi quando eu faço xixi, ou depois que eu como eu sinto a dor são características importantes da causa da dor. As dores causadas por gastrite são famosas por melhorar após comer alguma coisa e piorar em jejum prolongado. Quando há ulcera de estômago, a dor passa a não doer mais no jejum e passa a dor depois de comer por exemplo.

8. Fatores desencadeantes ou agravantes: Se há alguma atitude que faz com que a dor apareça, como no caso citado acima da angina de coração que aparece depois de um exercício físico, ou se há alguma coisa que piora a dor. Novamente a enxaqueca é cheia destas nuances: algumas pessoas terão crises de enxaqueca depois de comer algum tipo de alimento ou frequentar algum tipo de lugar, ou sentir algum tipo de cheiro. Também é conhecido que normalmente as enxaquecas pioram com luzes e barulhos intensos.

9 Fatores que aliviam a dor: Se a dor melhora sozinha ou se é necessário tomar algum tipo de remédio. As enxaquecas costumam melhorar em ambientes escuros e silenciosos por exemplo. O tipo de medicação também é importante quando há melhora da dor. Dores no peito que melhoram com remédios comuns tipo dipirona ou paracetamol não sugerem problemas cardíacos, já que a dor do infarto do miocárdio ou da angina de coração costuma melhorar apenas com remédios específicos.

10. Manifestações concomitantes: Algumas dores costumam vir com náuseas ou enjoos. Outras podem cursar com turvação visual, pontos brancos dispersos no campo de visão, entre outros. Essas características podem ajudar o médico a descobrir a causa da dor.

 

Estas são as 10 características da dor que podem ajudar você e seu médico a descobrir a causa de sua dor. Na próxima vez que você tiver uma dor preste atenção nela, tente pegar o máximo de informações dela que conseguir, pois quando o seu médico perguntar você saberá exatamente como descrever a dor, deixando o seu médico muito mais perto do diagnóstico certo e do alívio da sua dor.

 

OBS: Este artigo tem carater puramente informativo, não substituíndo a consulta presencial a um profissional habilitado e não pretendendo ser fonte única de conhecimento médico.

Artigo elaborado, após revisão da literatura médica, citada na fonte por Sergio Tranchesi Ortiz, CRM/SP: 109.121 - Clínico Geral (RQE 85913) e Cardiologista (RQE 85912).