Núcleo Vida e Saúde

A Síndrome do coração partido é mais conhecida no meio médico como a Síndrome de Takotsubo. A síndrome foi primeiramente descrita no Japão em 1990, num livro de medicina Japonês, relatando 5 casos, sendo o primeiro caso observado em 1983 num hospital de Hiroshima.

O interessante destes casos relatados é que os pacientes procuravam o pronto socorro com dor no peito muito sugestiva de infarto do coração, apresentavam inclusive alterações no Eletrocardiograma (um exame comum na cardiologia) compatíveis com o diagnóstico de infarto, mas, ao contrário do que se esperava, no cateterismo cardíaco não foram vistos entupimentos nos vasos coronarianos (vasos que levam o sangue para o próprio coração). O mais intrigante é queas alterações vistas inicialmente desapareceram por completo depois de apenas 2 semanas do início do quadro, com o coração voltando perfeitamente ao normal, como se nada tivesse acontecido, sem deixar sequelas ou cicatrizes do "infarto".

Casos como estes passaram a ser relatados mais frequentemente no Japão, o que levou a idéia de que esta doença era exclusiva de pessoas Asiaticas. Foi só no final dos anos de 1990 que grupos Americanos e Franceses passaram a publicar casos no mundo ocidental.

Em 2005, os casos acabaram parando em um importante jornal de medicina, com fama e importância internacional, o que levou o conhecimento da doença para todo o mundo. mesmo assim, o diagnóstico desta síndrome ainda é muitas vezes não feito.

O termo takotsubo se refere a uma armadilha japonesa para a pesca de polvo, pois o coração assume uma forma muito parecida com o formato desta armadilha durante o cateterismo.

 

 Polvo dentro de Armadilha Takotsubo
Imagem mostrando um Takotsubo, a armadilha para pesca de polvo no Japão, com um polvo dentro.
Fonte da imagem: http://eliasgouvea.com.br/wp-content/uploads/2019/02/takotsubowithcapturedoctopus.jpeg

 

 

coração no cateterismo e o takotsubo
Imagem mostrando a semelhança entre o aspecto do coração ao cateterismo e a armadilha de polvo usada antigamente no Japão, a Takotsubo.
Fonte da imagem: https://raciocinioclinico.com.br/wp-content/uploads/2019/02/tako2.jpg

 

A Síndrome de Takotsubo é então caracterizada por uma alteração temporária da motilidade do ventrículo esquerdo, tendo sinais e sintomas em comum com o infarto do miocárdio como a dor precordial, falta de ar e demaio, além de alterações do eletrocardiograma, elevação das enzimas do coração. A mortalidade intra-hospitalar, ouseja na instalação do quadro também é semelhante com a mortalidade por infarto propriamente dita. Estima-se que 1a 3% dos casos suspeitos de infarto que dão entrada no pronto socorro podem corresponder a casos de síndrome de Takotsubo.

O diagnóstico é normalmente em feito com o cateterismo, vendo as coronárias sem lesões que justifiquem o quadro de infarto do miocárdio e a deformidade característica do coração.

Ela é deflagrada normalmente por estresse intenso, seja ele físico ou intenso. Também é mais comum em mulheres, e principalmente idosas, embora casos em homens também tenham sido descritos, além de um caso em um bebê recém-nascido. Suspeita-se que haja uma predisposição genética para apresentar a Síndrome de Takotsubo e doenças neurológicas ou psiquiátricas também parecem se fatores predisponentes.

 O evento que a deflagrou é identificável na maioria das vezes e incluem normalmente o luto (perda de um familiar, amigo ou animal de estimação), situações de conflito interpessoal (divórcio ou brigas familiares, por exemplo), medo ou pânico (assaltos ou falar em público por exemplo), raiva, ansiedade, problemas financeiros, vergonha ou humilhação (infidelidade conjugal ou derrota em um evento competitivo por exemplo). Desastres naturais também tem sido descritos como disparadores da Síndrome de Takotsubo, tais como terremotos ou enchentes. Mesmo eventos positivos, mas de grande carga emocional, podem ser deflagradores do quadro, tais como festa de aniversário surpresa, vencer na loteria ou conseguir uma promoção de trabalho ou um emprego novo.

O tratamento é semelhante aos casos de infarto do coração, principalmente durante a fase aguda, ou intra-hospitalar, onde as complicações cardíacas tais como insuficiência cardíaca, arritmias, choque cardiogênico e edema agudo do pulmão são condições com risco de vida importante e devem ser tratadas tais como se estivessem a ocorrer após um infarto do coração.

 

OBS: Este artigo tem carater puramente informativo, não substituíndo a consulta presencial a um profissional habilitado e não pretendendo ser fonte única de conhecimento médico.

Artigo elaborado após revisão da literatura médica citada por Sergio Tranchesi Ortiz, CRM/SP: 109.121 - Clínico Geral (RQE 85913) e Cardiologista (RQE 85912).