Núcleo Vida e Saúde

 Em 6 de julho de 1885, Louis Pasteur testa com sucesso a vacina contra a raiva no jovem Joseph Meister, trazendo uma esperança a uma doença até então quase 100% fatal.

A raiva é uma zoonose, ou seja um doença transmitida por animais aos humanos e, sem tratamento precoce, é fatal em 100% dos casos após o aparecimento dos sintomas. A transmissão normalmente se dá entre o animal doente e o saudável através do contato com a saliva contaminada, seja por mordidas ou lambidas. Mesmo sob controle nos centros urbanos onde os principais animais transmissores, cães e gatos, são constantemente vacinados e vigiados, a doença demanda atenção por conta dos animais silvestres.

É a considerada a doença com os registros mais antigos, pois há relatos da doença desde a antiguidade. Em 1433 provocou pânico em Paris, quando um grupo de lobos raivosos invadiram a cidade. O governo dava recompensas a quem conseguisse matar um animal, devendo este provar o feito com a cabeça ou patas do animal.

O tempo de incubação, isto é entre a mordida e o início dos sintomas normalmente é maior que 30 dias, podendo até ser de alguns meses. O tratamento era basicamente a destruição do tecido que havia sido mordido, fosse com cauterização a ferro quente ou banhos com acido sulfúrico.

Nos cães a doença apresenta período de incubação de 15 a 60 dias, iniciando os sintomas com o cão mostrando-se melancólico, triste ou eventualmente muito mais alegre e carinhoso do que de costume. Então com a evolução da doença, torna-se cada vez mais agitado, passando a ter alucinações, tentando morder moscas inexistentes, rasgando almofadas, tapetes e cortinas e comendo terra. O latido passa a ser abafado e rouco e a boca não se fecha mais. Então passa a apresentar sinais de paralisia nos membros traseiros, com andar incerto. Com a acentuação da fraqueza, a respiração fica irregular e a morte ocorre 4 a 6 dias após o início dos sintomas.

No ano de 1852, o governo fancês, preocupado com a escalada de casos de raiva passa a oferecer uma recompensa a quem descobrisse um tratamento eficaz contra a doença. Em 1880, Louis Pasteur então debruça-se sobre a doença, conseguindo isolar o virus em 1881. Em 1885, Pasteur anuncia a seu colega Jules Vercel que desenvolveu uma vacina e tem usado-a com sucesso em animais, mas que não tinha se atrevido a experimentar a vacina em seres humanos.

Em 4 de julho de 1885, o jovem Joseph Meister, então com 9 anos é atacado por um cão conhecido durante um percurso a cervejaria local em busca de fermento, sofrendo ao total 14 mordidas nas pernas e braços. O cachorro, pertencente a um taberneiro local é levado ao veterinário mas, antes de chegar ao destino precisou ser sacrificado pelo risco de ataque a outros humanos pelo caminho. A autópsia do animal mostrou que ele havia ingerido feno, palha e madeira, sinais compatíveis com o diagnóstico de raiva. Theodore Vonne, o dono do animal, que havia ajudado a tirar o cachorro de cima do menino volta a vila onde pessoas lhe contam que haviam lido em um jornal sobre os experimentos promissores de Louis Pasteur em Paris.

O garoto é levado ao consultório do Dr. Weber, médico da vila, que vendo o estado das feridas alerta que se fosse caso de raiva, não haveria nada a fazer e que a morte da criança era certa.

O taberneiro então procura a família do garoto Joseph e lhes conta sobre a possiblidade de tratamento com Louis Pasteur.

Estando em Paris, Louis Pasteur era mal visto pela comunidade médica local, por não ter formação médica e a familia de Joseph Meister tem muita dificuldade em localizar o cientista. Foi só num hotel, que conseguiram o endereço de onde Louis Pasteur trabalhava.

Louis Pasteur, confrontado pela morte iminente do garoto, resolve então testar, com a autorização damãe de Joseph, a vacinapela primeira vez em humanos. Por não ser médico, Pasteur consulta dois amigos médicos, que confirmando a morte certa do garoto também concordam com o procedimento, que é iniciado na noite do dia 6 de julho de 1885, totalizando 21 aplicações, em doses crescentes do virus. No dia 27 de julho, Joseph e sua mãe são liberados e retornam para vila natal.

Recentemente, um jovem de 14 anos faleceu no estado do Rio de Janeiro após contrair raiva por uma mordida de morcego. Segundo a reportagem consultada, o jovem não fez o uso das vacinas antirrabica, embora tenha sido orientado a isso. Veja mais em: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/06/17/garoto-de-14-anos-e-1-morto-por-raiva-humana-no-rio-desde-2006.htm#:~:text=A%20raiva%20%C3%A9%20uma%20doen%C3%A7a,mundo%20%2D%20dois%20deles%20no%20Brasil.

 

OBS: Este artigo tem carater puramente informativo, não substituíndo a consulta presencial a um profissional habilitado e não pretendendo ser fonte única de conhecimento médico.

Artigo elaborado após revisão da literatura médica citada por Sergio Tranchesi Ortiz, CRM/SP: 109.121 - Clínico Geral (RQE 85913) e Cardiologista (RQE 85912).